segunda-feira, 10 de março de 2014

#7: Os Profanos entram em Calli

O dia chega em Calli, Dake acorda de seu sono profundo. Não tinha percebido quando se deitou na noite anterior, mas o quarto em que está é muito mais limpo e apresentável que o andar logo abaixo, "talvez porque poucas pessoas aluguem quartos", pensou. Ele ficou poucos segundos admirando o quarto, e logo depois levantou-se para fazer suas atividades rotineiras da manhã, porém, assim que abriu a porta, Eldor estava lá, junto com Nicaill, que fora empurrado para dentro pelo dono da taverna, entrando logo em seguida e fechando a porta.
—Ei, ei, o que está acontecendo aqui? -Dake indaga, sem saber direito o que fazer.
—Silêncio! -Eldor pede, com expressão assustada no rosto. -Ouçam bem: vocês não podem sair deste quarto até que eu diga, e não façam barulho nenhum. Entenderam?
—Por quê? -Nicaill pergunta. Seu braço ainda não estava completamente recuperado, porém agora doía menos. Ele não dormiu mais que meia hora, não conseguiu. -O que está acontecendo?
—Eu ouvi agora a pouco -Eldor inicia-, um dos clientes disse que viu alguns soldados Profanos andando em torno da cidade. Outro deles disse que ouviu um soldado falando que procuravam alguém. Não demoraria pra deduzir que quem eles estão procurando são vocês.
—Hein?! -Dake mostra uma expressão totalmente confusa, ele não sabia o que era um profano, tampouco por que eles estariam interessados em procurar por eles. -Quem são esses?
—Profanos são uma organização maligna, e seus membros se dividem em quatro classes: Os magos, que são maioria; os especialistas, que detém apenas uma habilidade mágica, porém a dominam com maestria; os mestres de armas, que por vezes ensinam outros membros a usarem espadas, maças e todo tipo de arma; e por fim os curandeiros, que servem como suporte à organização. Todos eles tem diversas perícias, alguns são ótimos em espionagem, infiltração, coleta de dados, etc. Eles tem muitos segredos a seu redor, dizem que controlam até monstros mágicos raros e espíritos antigos, talvez até dragões. -Eldor explica.
—E por que eles estão atrás da gente? -Dake pergunta.
—Seus pais foram os principais heróis da guerra, é claro que eles querem se livrar de qualquer possível ameaça aos seus planos.
—Espera, os pais do Nic também? -Dake não sabia. -Nic, você sabia?
—Sim, eu sei desde os onze anos, mas nunca soube nada desses tais Profanos.
—E por que não disse nada? -Dake fala, irritado.
—Você não perguntou. -Nic responde, inocentemente.
—Ei, fiquem quietos os dois! -Eldor diz. Ele logo se vira e segue em direção à porta. -Não saiam daí até eu dar o sinal.
E sai, trancando a porta por fora, e deixando os dois presos lá. Rapidamente, Dake se vira para Nicaill e diz:
—Eu não confio nele.
Nic vai em direção à porta e se coloca a ouvir o que se passa do lado de fora, apenas silêncio, Eldor já tinha descido.
—Não custa nada nós ficarmos aqui um pouco, qualquer coisa a gente sai pela janela. -Diz, despreocupadamente.
—Claro, a janela, por que não pensei nisso. -Dake responde, com sarcasmo.
Na casa dos Barbetmac, Baldo havia saído com Dawyn, para buscar porcos em Pillcast, uma das cidades vizinhas a Calli, Ruth está dormindo em seu quarto, não percebeu quando Anwyn entrou, de madrugada, e nem quando ela saiu para o sótão, logo cedo. Anwyn, por sua vez, desde que voltou para o sótão, tudo o que tem feito é remexer em caixas, bolsas e panos, até que pegou um baú de pequeno porte, de madeira escarlate e abriu-o, revelando muitas moedas. Zunis de bronze, ouro e prata, o baú estava repleto delas, numa conta rápida, pode-se assumir uma quantia de 100 Zunis de ouro, 83Z$ de prata e mais de 50Z$ de bronze, provavelmente havia mais. "O dia está chegando..." ela pensou, logo fechou o baú e o escondeu por baixo de tecidos e roupas antigas, logo voltou a remexer coisas.
Três horas se passaram, Nicaill e Dake estavam sentados no chão de madeira, nenhum dos dois havia comido nada, desde cedo, seus estômagos começam a reclamar da falta de alimento. Dake abrira a boca para dizer "estou com fome" quando Eldor abriu a porta, trazendo consigo alguns pães, queijos e cerveja preta sobre uma bandeja de prata, com a borda adornada.
—Ah, estava mesmo com muita fome. -Dake diz, levantando-se, pegando uma fatia de queijo e uma caneca com cerveja.
—Muito obrigado Eldor. -Nic pega a outra caneca, mas escolhe um pão ao invés de queijo.
—Me perdoem por fazer vocês ficarem assim, mas acho que entendem os motivos. -Eldor diz, pousando a bandeja na mesinha que se encontra ao lado da cama,
—Nós entendemos sim. -Dake fala, com a boca cheia de queijo.
Eldor sai, não se esquecendo de trancar a porta, como Nic confirmou logo em seguida. Mais um tempo se passa, já não há mais pães nem queijos ou cerveja para Nic e Dake, o Sol da tarde incide sobre o quarto pela janela de fora, pela frente, projetando as sombras que passam pela porta dentro do quarto.
—Olha Dake! -Nic fala, apontando para a luz que vem debaixo da porta. -Agora nós temos como saber se tem alguém lá fora.
—Mas por que a gente ia precisar saber se tem alguém lá fora se o Eldor disse que vai nos avisar?
—E se o Eldor não puder nos avisar? -E olha para Dake sobriamente.
—Você quer dizer... -Dake faz um gesto simbolizando o caso de Eldor ser morto.
—É. -Nic responde.
Ao mesmo tempo, Anwyn está na cozinha, terminando de lavar a louça, quando seu pai e Dawyn chegam. A carroça está repleta de porcos, e é posicionada rente à calçada.
 Baldo abre a porta, sua mão tem sangue encobrindo-a, bem como respingos no rosto. Dawyn é o primeiro a entrar, ele também tem vestígios de sangue nas roupas e mãos. Baldo entra em seguida, ele não cumprimenta Anwyn, apenas diz:
—Vá guardar os porcos no porão.
Anwyn não presta muita atenção, ela achou que ele estava falando com Dawyn, e continuou lavando o resto de louça que faltava.
—Não está ouvindo? Eu mandei você ir guardar os porcos no porão! -Baldo exclama.
—Ah, é comigo? -Anwyn diz, inocentemente. -E por que você ou o Dawyn não fazem isso?
—Por quê? Porquês não interessam, se eu estou mandando, você tem que fazer e pronto!
—Não, não vou fazer nada. Se quiser, peça pra outra pessoa ou faça você mesmo!
—Ora, sua fedelha! Vamos logo! Qual é o seu problema?
—Meu problema? Sou só eu quem faz as coisas pesadas por aqui, só eu quem carrega porcos, só eu! Esse é o meu problema! Eu quero sair, quero viver!
—Ah, então é isso... -Baldo passa a mão na testa, manchando-a com sangue. -Aqueles garotos, eu sabia.
—Eles não tem nada a ver comigo! Desde o ano passado eu tenho vontade de viajar pelo mundo, e logo terei condições para isso.
—Não se eu puder impedir. -Baldo olha para a filha com ira.
—Aí é que está. Você não pode.
Baldo começa a andar rumo às escadas, e diz:
—Não posso evitar? E se eu for ao sótão, poderei?
Anwyn denuncia, mostrando uma expressão surpresa. Baldo aperta o passo para cima, e chega ao sótão, Anwyn vai à porta, assovia um longo e alto som, logo depois corre para dentro e entra no sótão, e vê seu pai mexendo em tudo, a procura de algo que nem ele sabe o que é, até que ele achou: o baú com o dinheiro.
Mais que depressa, Anwyn tentou tomar o baú das mãos dele, porém, foi empurrada contra a parede.
—Então é isso que você guarda aqui, não é? -Diz, tentando abrir o baú, sem sucesso.
Anwyn se levanta, e corre enfurecida, pega o baú com as duas mãos e tenta puxar. Baldo puxa de volta, mas Anwyn não solta, a força dos dois é semelhante, sendo Baldo mais forte, até que ela retira uma das mãos do baú e soca seu pai no rosto, que se desnorteia e solta o baú.
Ela se vira, pega uma bolsa de couro próxima e sai correndo para a porta, porém é impedida por seu pai e Dawyn, que acabara de chegar.
Na taverna, uma voz em tom alterado do lado de fora da taverna chama a atenção de Nic e Dake. Eles foram para a janela e observaram a cena: um dos clientes da taverna, completamente bêbado, estava discutindo com um homem alto, de queixo quadrado e barba rala, o longo cabelo verde-floresta penteado em falso moicano para trás e vestindo uma camisa de tecido fino, preta, calça de algodão, também preta, e botas de couro marrons, encobertos por uma capa preta.
—Você não está com calor? Vestido que nem um urso desse jeito. -o bêbado disse.
—Ora, saia da minha frente! -o homem respondeu- não tenho tempo para conversas inúteis.
O bêbado tentou encostar na capa do outro, mas assim que estendeu o braço, foi inteiramente consumido por chamas verdes, deixando apenas cinzas em frente ao homem de preto, que seguiu em direção à taverna, junto de dois outros que apareceram em seguida.
—Ei, Nic. -Dake diz, olhando devagar para seu amigo. -Será que eles são os...
—Sim, eles são, e nós vamos sair daqui agora, sem esperar pelo sinal do Eldor. -Nic fala, interrompendo Dake.
—Mas por que a gente vai embora desse jeito? Nós devíamos esperar.
—Você viu aquele cara? Queimou o outro impiedosamente só porque ele tentou pegar na capa, e depois passou pelas cinzas dele como se não tivesse acontecido nada. Nós não temos como esperar.
—Mas você não...
Nic interrompe novamente.
—Vamos logo!
—E pra onde a gente vai?
—Depois que nós estivermos em segurança, a gente vê. -Nic começa a abrir a janela.
—Tá certo então. -Dake se conforma.
Nic se apóia sobre janela, então pula, e logo se esconde no estreito beco entre a taverna e uma construção desativada, que anteriormente era um depósito de mercadorias. Dake pula logo em seguida. Os dois, agora escondidos, decidem ir para trás da taverna, tentar observar o que acontece do lado de dentro, pela janela dos fundos.
Olhando para dentro, É possível ver os três homens vestidos de preto, olhando para Eldor, que não recuara nenhum passo.
O homem com falso moicano foi o primeiro a falar:
—Onde eles estão?
Houve silêncio, Eldor não parecia querer dizer. A apreensão de Nic e Dake só crescia, eles temem que ele possa ser incinerado, da mesma forma que o outro na rua.
—Vamos! Diga onde eles estão! -Outro homem diz, este está com a vestimenta preta igual ao primeiro, porém usa um capuz de mesma cor sobre a cabeça, assim como o terceiro, a seu lado.
—Rymber, acalme-se. -O homem sem capuz fala. -Eldor sabe que se não nos disser onde o filho d'Ele e seu amiguinho filho do Anti-Mago estão, sofrerá todas as consequências, e ele não quer passar por isso novamente, não é, número 583?
Ele pega o pulso de Eldor, revelando o que está nele é uma marca a fogo, com o número 583. Eldor puxa bruscamente o braço do agarro de Kort, desvencilhando-se.
—Quanta insolência! -Eldor diz, rispidamente. -Quem vocês pensam que eu sou? Um mero escravo dos profanos? Eu sou um 3º Vasdus da Casa Autumnleaf.  Saiam logo daqui! Eles estão lá em cima, no primeiro quarto.
Os profanos se assustam, assim como Nic e Dake (que sussurrou "eu sabia que ele não era confiável", logo que Eldor se revelou traidor). Kort olhou para Eldor e disse, respeitosamente, pela primeira vez desde que entrara no estabelecimento, mas ainda sem sair de sua pose imponente e orgulhosa:
—Senhor, o senhor conseguiu alguma informação importante?
—Sim, eu consegui, mas não pude pegar um certo objeto que o filho d'Ele carrega consigo. -Eldor responde, ainda irritado.
—Que objeto, senhor? -Rymber pergunta.
—Isso não é da sua conta, agora vão pegá-los logo!
E os três partiram escadaria acima para pegar Nic e Dake, porém qual não foi a surpresa deles quando abriram a porta e perceberam que os dois não estavam mais lá. Eles desceram enfurecidos, e Eldor não estava entendendo o porquê de eles estarem voltando de mãos vazias.
—Por que não os pegaram?
—Porque eles não estavam lá! -Kort diz. Seus olhos da mesma cor que o cabelo brilhavam como fogo, e sua expressão enraivecida se mostrava pela primeira vez.
—Como assim "não estavam lá"? -Eldor fala, surpreendido. -É claro que eles estão lá, eu os coloquei no quarto, a menos que eles tenham saído pela janela.
—Deve ter sido isso mesmo, você sabe para onde eles vão depois daqui? -Rymber pergunta.
—Não, isso eu não sei, mas sei que eles estão atrás de um professor.
Eldor mentiu, ele sabia que os dois estavam indo para Zubahn. Nic percebeu isso, e logo puxou Dake para junto de si, enquanto começava a sair para a rua. Dake derrubou uma garrafa de licor de videira doce Artmus (feito artesanalmente na cidade de Artmus, no reino Noroeste -também conhecida por ter os melhores vidraceiros de Utopia. -maturado de dois a três meses em barris e carvalho, adicionando 35 gotas de mel liquefeito a cada quinzena.), e isso chamou a atenção dos quatro homens dentro da taverna, que viram os vultos de Nic e Dake correndo para a rua.
—Olha eles lá! -Abal, o terceiro homem, encapuzado, diz, apontando para a janela dos fundos.
Os três foram correndo para fora, na esperança de pegá-los quando passassem pelo beco, mas sem sucesso, logo depois perceberam que eles estavam mais à frente, correndo pela grande praça central, então foram atrás deles. Rymber sacou sua varinha, girou-a no ar e conjurou um tigre-de-armadura (nativos da Floresta Negra), Abal, um amestrador, montou-o imediatamente. Kort e Rymber aumentaram a velocidade da corrida magicamente, e os três começaram a se aproximar de Nic e Dake, que não tinham como acelerar mais, porém, conseguiram se distanciar mais quando ouviram um som muito alto ao fundo, que fez os três profanos pararem e olharem o que era.
Uma figura se aproximava em alta velocidade, mais rápido que qualquer coisa que se pudesse pensar. Os profanos observaram por dois segundos, até que Abal disse, sobre seu tigre-de-armadura:
—Aquilo é mesmo o que eu acho que é?
—Se o que você está vendo é um cervo da Falconsflight, sim, é isso mesmo. -Rymber diz.
Nic e Dake também se viraram para ver, e chegaram à mesma conclusão:
—Flamestorm!! -Os dois disseram, simultaneamente.
O cervo companheiro de Anwyn vinha correndo, os profanos tentaram atacá-lo, porém Flamestorm desvia com sucesso dos três ataques e passa pelos três rapidamente, e chegando a Nic e Dake, ele para. Em seu lombo, estão o arco e a aljava da Anwyn, amarrados.
—Qual é o problema, garotos? -Flamestorm pergunta.
—Flame, você poderia nos dar uma carona, é que esses caras estão atrás de nós. -Nic pede.
—Claro! Subam.
Os dois montaram no cervo e partiram velozmente. Em seguida, Abal, Rymber e Kort retomaram a perseguição, muito mais distantes. Rymber sacudiu sua varinha para o céu à frente deles, e nuvens negras começaram a aparecer.
—Você já vai chamar o resto? -Abal pergunta.
—Claro! Nós não sabemos até onde eles vão correr naquele cervo, então é melhor ter mais gente indo atrás deles.
—Muito bem, Rymber, agora mande tudo o que sabemos para eles e vamos apressar mais, se transformem! -Kort diz, envolvendo seu corpo com chamas verdes, transformando-se num raio de fogo, e partindo mais rápido que Abal e Rymber.
Abal desce do tigre, fazendo-o desaparecer, transforma seu corpo numa serpente-torpedo (serpente característica do Grande Deserto, no Reino Nordeste, a mais rápida de todas as criaturas do deserto, capaz de se mover a mais de cinquenta quilômetros por hora). Rymber, que ficara para trás, sacode mais uma vez a varinha, fazendo sair de sua ponta, uma luz azulada, que parte em direção às nuvens negras, e depois envolve seu corpo numa redoma de névoa negra, e dispara junto aos dois.
Flamestorm chega na casa dos Barbetmac. Começa a escurecer, Baldo, distraído pelo estranho fenômeno, é empurrado por Anwyn, que corre para fora do sótão, em seguida, para fora de casa. Seu pai, recobrando-se da distração, vai atrás dela. Anwyn abre a porta, e se depara com Flamestorm, carregando sua arma, juntamente Nicaill e Dake.
—O que vocês dois estão fazendo aqui? -Ela pergunta.
—Estamos fugindo, e você? -Nicaill responde.
—Eu também.
—Que sorte a nossa o Flame ter aparecido bem quando a gente precisava. -Dake diz, dando leves tapinhas no cervo.
—Eu o chamei. -Anwyn diz, pegando seu arco e aljava, posicionando-os. -Agora dá licença.
—E, por favor, não dê batidinhas em mim. -Flame pede.
—Ok. -Dake dá espaço para Anwyn montar à frente dos dois.
Antes de eles partirem, Baldo aparece à porta, perde o foco por um instante ao ver Flamestorm (ele jamais vira cervos gigantes antes, apenas ouvia falar deles), mas logo fala:
—Anwyn! Se você for, nem pense em voltar! NUNCA MAIS!!
—Olha só -Anwyn começa-, era exatamente isso que eu pretendia fazer mesmo!
Não deu tempo de Baldo responder, pois, do céu escurecido, desceram oito colunas de fumaça negra em direção ao chão, impactando-se contra ele, e revelando homens encapuzados, totalmente vestidos de preto, cercando-os. Kort chega também, surgindo do raio de fogo, seguido por Abal, em forma de serpente-torpedo, morfoseando-se de volta à forma humana, e Rymber, em sua redoma de névoa.
—Quem são esses? -Anwyn pergunta, surpresa.
—São os caras de quem a gente tava fugindo. -Nic responde.
—Mas quando a gente chegou aqui eram só três -Dake completa.
—Ora ora, se bem me lembro você é Baldo Barbetmac, não? - Kort diz, aproximando-se da casa.
—Sou sim, e você deve ser o capitão cacatua, estou certo? -Baldo responde, irritado.
—Bem, você é mesmo como descrevem nas histórias, ranzinza e parrudo. Quem diria que um dos heróis da guerra, que defendeu os suprimentos dos rebeldes a todo custo, na Invasão, iria acabar como um mero vendedor de porcos.
—Espera, você foi herói de guerra? -Anwyn fica perplexa com a fala de Kort.
—Eu não fui herói de nada! -Baldo retruca. -Apenas estava fazendo meu trabalho! E eles disseram que iriam me pagar, mas tudo o que me deram foi o suficiente pra comprar umas terras em Pillcast, uma carroça e essa casa aqui. Tive muito prejuízo nessa tal guerra, isso sim!
—Uau! Por essa eu não esperava. -Dake fala.
—Fica quieto Dake! - Nic repreende.
—Pois bem, eu não sabia que vocês garotos estavam envolvidos com mais um herói, então terei que tomar algumas precauções.
Ao fundo, Abal e Rymber se entreolham, logo Abal fala:
—Qual dos dois você acha que é a terceira roda?
—Eu acho que é o filho do Anti-Mago. -Rymber responde, olhando para frente.
Voltando a Kort, esse estende a mão, e dela, surge uma esfera de chamas verde. Ele se volta para os três montados em Flamestorm, e fala.
—Senhor Baldo, poderia, se não for muito incômodo,nos entregar esses três? O senhor sabe, é que nós temos ordens.
—Os dois frangotes tudo bem, eu não me importo, mas minha filha fica comigo! -Baldo diz.
—Pois bem, você não vai ceder -Kort disse, andando para frente-, pelo que vejo e sei das histórias, então não tem outro jeito.
Mais rápido que qualquer um pudesse ver, Kort lançou uma rajada de chamas verdes pelas mãos estendidas em direção a Baldo, e atinge-o em cheio, jogando-o para dentro de casa, e as chamas começam a se espalhar pela cozinha. Salett e Ruth descem assim que percebem o fogo. e tentam apagar, jogando água, porém as chamas verdes só aumentam e se espalham.
Num segundo, o fogo já tomava o andar térreo inteiro. Uma flecha raspou a bochecha de Kort, tirando um fio de sangue. Ao olhar para onde a flecha partira, viu Anwyn empunhando o arco e preparando mais uma flecha.
—Apague esse fogo agora! -Exclamou Anwyn. -Ou eu vou atirar mais essa flecha, e dessa vez eu não vou errar.
Kort deu um sorriso, estalou os dedos, e em vez de apagar, as chamas tomaram conta da casa inteira, incinerando tudo, e derivando delas, surgiu um círculo em torno de Flamestorm, prendendo todos os quatro dentro dele.
—Agora a gente está preso aqui. Como a gente vai sair? -Dake fala.
—Não tem problema, eu posso passar pelas chamas sem me queimar, por causa da minha velocidade. -Flamestorm diz, já se preparando para correr.
—Mas e meus pais e irmãos? -Anwyn pergunta.
—Não dá pra salvá-los, nós vimos um cara ser queimado por essas chamas mais cedo, e não sobra nada. -Nic diz.
Anwyn forma lágrimas nos olhos, e Flame sai velozmente, passando pelas chamas sem se queimar, e surpreendendo todos os profanos, e partindo em direção ao caminho à Zubahn.

A estrada não é muito espaçosa, sobrando lugar apenas para Flamestorm, e para as carroças que vêm em direção à Calli, mas a distância é longa, e a noite estava chegando, os quatro seguiam a Zubahn, para enfim encontrar Toror, o elfo anão treinador militar, e de fato, iniciar sua aventura num novo nível.