O
dia chega em Calli, Dake acorda de seu sono profundo. Não tinha percebido
quando se deitou na noite anterior, mas o quarto em que está é muito mais limpo
e apresentável que o andar logo abaixo, "talvez porque poucas pessoas
aluguem quartos", pensou. Ele ficou poucos segundos admirando o quarto, e
logo depois levantou-se para fazer suas atividades rotineiras da manhã, porém,
assim que abriu a porta, Eldor estava lá, junto com Nicaill, que fora empurrado
para dentro pelo dono da taverna, entrando logo em seguida e fechando a porta.
—Ei,
ei, o que está acontecendo aqui? -Dake indaga, sem saber direito o que fazer.
—Silêncio!
-Eldor pede, com expressão assustada no rosto. -Ouçam bem: vocês não podem sair
deste quarto até que eu diga, e não façam barulho nenhum. Entenderam?
—Por
quê? -Nicaill pergunta. Seu braço ainda não estava completamente recuperado,
porém agora doía menos. Ele não dormiu mais que meia hora, não conseguiu. -O
que está acontecendo?
—Eu
ouvi agora a pouco -Eldor inicia-, um dos clientes disse que viu alguns
soldados Profanos andando em torno da cidade. Outro deles disse que ouviu um
soldado falando que procuravam alguém. Não demoraria pra deduzir que quem eles
estão procurando são vocês.
—Hein?!
-Dake mostra uma expressão totalmente confusa, ele não sabia o que era um
profano, tampouco por que eles estariam interessados em procurar por eles.
-Quem são esses?
—Profanos
são uma organização maligna, e seus membros se dividem em quatro classes: Os
magos, que são maioria; os especialistas, que detém apenas uma habilidade
mágica, porém a dominam com maestria; os mestres de armas, que por vezes
ensinam outros membros a usarem espadas, maças e todo tipo de arma; e por fim
os curandeiros, que servem como suporte à organização. Todos eles tem diversas
perícias, alguns são ótimos em espionagem, infiltração, coleta de dados, etc.
Eles tem muitos segredos a seu redor, dizem que controlam até monstros mágicos
raros e espíritos antigos, talvez até dragões. -Eldor explica.
—E
por que eles estão atrás da gente? -Dake pergunta.
—Seus
pais foram os principais heróis da guerra, é claro que eles querem se livrar de
qualquer possível ameaça aos seus planos.
—Espera,
os pais do Nic também? -Dake não sabia. -Nic, você sabia?
—Sim,
eu sei desde os onze anos, mas nunca soube nada desses tais Profanos.
—E
por que não disse nada? -Dake fala, irritado.
—Você
não perguntou. -Nic responde, inocentemente.
—Ei,
fiquem quietos os dois! -Eldor diz. Ele logo se vira e segue em direção à
porta. -Não saiam daí até eu dar o sinal.
E
sai, trancando a porta por fora, e deixando os dois presos lá. Rapidamente,
Dake se vira para Nicaill e diz:
—Eu
não confio nele.
Nic
vai em direção à porta e se coloca a ouvir o que se passa do lado de fora,
apenas silêncio, Eldor já tinha descido.
—Não
custa nada nós ficarmos aqui um pouco, qualquer coisa a gente sai pela janela.
-Diz, despreocupadamente.
—Claro,
a janela, por que não pensei nisso. -Dake responde, com sarcasmo.
Na
casa dos Barbetmac, Baldo havia saído com Dawyn, para buscar porcos em
Pillcast, uma das cidades vizinhas a Calli, Ruth está dormindo em seu quarto,
não percebeu quando Anwyn entrou, de madrugada, e nem quando ela saiu para o
sótão, logo cedo. Anwyn, por sua vez, desde que voltou para o sótão, tudo o que
tem feito é remexer em caixas, bolsas e panos, até que pegou um baú de pequeno
porte, de madeira escarlate e abriu-o, revelando muitas moedas. Zunis de
bronze, ouro e prata, o baú estava repleto delas, numa conta rápida, pode-se
assumir uma quantia de 100 Zunis de ouro, 83Z$ de prata e mais de 50Z$ de
bronze, provavelmente havia mais. "O dia está chegando..." ela
pensou, logo fechou o baú e o escondeu por baixo de tecidos e roupas antigas,
logo voltou a remexer coisas.
Três
horas se passaram, Nicaill e Dake estavam sentados no chão de madeira, nenhum
dos dois havia comido nada, desde cedo, seus estômagos começam a reclamar da
falta de alimento. Dake abrira a boca para dizer "estou com fome"
quando Eldor abriu a porta, trazendo consigo alguns pães, queijos e cerveja preta
sobre uma bandeja de prata, com a borda adornada.
—Ah,
estava mesmo com muita fome. -Dake diz, levantando-se, pegando uma fatia de
queijo e uma caneca com cerveja.
—Muito
obrigado Eldor. -Nic pega a outra caneca, mas escolhe um pão ao invés de
queijo.
—Me
perdoem por fazer vocês ficarem assim, mas acho que entendem os motivos. -Eldor
diz, pousando a bandeja na mesinha que se encontra ao lado da cama,
—Nós
entendemos sim. -Dake fala, com a boca cheia de queijo.
Eldor
sai, não se esquecendo de trancar a porta, como Nic confirmou logo em seguida.
Mais um tempo se passa, já não há mais pães nem queijos ou cerveja para Nic e
Dake, o Sol da tarde incide sobre o quarto pela janela de fora, pela frente,
projetando as sombras que passam pela porta dentro do quarto.
—Olha
Dake! -Nic fala, apontando para a luz que vem debaixo da porta. -Agora nós
temos como saber se tem alguém lá fora.
—Mas
por que a gente ia precisar saber se tem alguém lá fora se o Eldor disse que
vai nos avisar?
—E
se o Eldor não puder nos avisar? -E olha
para Dake sobriamente.
—Você
quer dizer... -Dake faz um gesto simbolizando o caso de Eldor ser morto.
—É.
-Nic responde.
Ao
mesmo tempo, Anwyn está na cozinha, terminando de lavar a louça, quando seu pai
e Dawyn chegam. A carroça está repleta de porcos, e é posicionada rente à
calçada.
Baldo abre a porta, sua mão tem sangue
encobrindo-a, bem como respingos no rosto. Dawyn é o primeiro a entrar, ele
também tem vestígios de sangue nas roupas e mãos. Baldo entra em seguida, ele
não cumprimenta Anwyn, apenas diz:
—Vá
guardar os porcos no porão.
Anwyn
não presta muita atenção, ela achou que ele estava falando com Dawyn, e continuou
lavando o resto de louça que faltava.
—Não
está ouvindo? Eu mandei você ir guardar os porcos no porão! -Baldo exclama.
—Ah,
é comigo? -Anwyn diz, inocentemente. -E por que você ou o Dawyn não fazem isso?
—Por
quê? Porquês não interessam, se eu estou mandando, você tem que fazer e pronto!
—Não,
não vou fazer nada. Se quiser, peça pra outra pessoa ou faça você mesmo!
—Ora,
sua fedelha! Vamos logo! Qual é o seu problema?
—Meu
problema? Sou só eu quem faz as coisas pesadas por aqui, só eu quem carrega
porcos, só eu! Esse é o meu problema! Eu quero sair, quero viver!
—Ah,
então é isso... -Baldo passa a mão na testa, manchando-a com sangue. -Aqueles
garotos, eu sabia.
—Eles
não tem nada a ver comigo! Desde o ano passado eu tenho vontade de viajar pelo
mundo, e logo terei condições para isso.
—Não
se eu puder impedir. -Baldo olha para a filha com ira.
—Aí
é que está. Você não pode.
Baldo
começa a andar rumo às escadas, e diz:
—Não
posso evitar? E se eu for ao sótão, poderei?
Anwyn
denuncia, mostrando uma expressão surpresa. Baldo aperta o passo para cima, e
chega ao sótão, Anwyn vai à porta, assovia um longo e alto som, logo depois
corre para dentro e entra no sótão, e vê seu pai mexendo em tudo, a procura de
algo que nem ele sabe o que é, até que ele achou: o baú com o dinheiro.
Mais
que depressa, Anwyn tentou tomar o baú das mãos dele, porém, foi empurrada
contra a parede.
—Então
é isso que você guarda aqui, não é? -Diz, tentando abrir o baú, sem sucesso.
Anwyn
se levanta, e corre enfurecida, pega o baú com as duas mãos e tenta puxar. Baldo
puxa de volta, mas Anwyn não solta, a força dos dois é semelhante, sendo Baldo
mais forte, até que ela retira uma das mãos do baú e soca seu pai no rosto, que
se desnorteia e solta o baú.
Ela
se vira, pega uma bolsa de couro próxima e sai correndo para a porta, porém é impedida
por seu pai e Dawyn, que acabara de chegar.
Na
taverna, uma voz em tom alterado do lado de fora da taverna chama a atenção de
Nic e Dake. Eles foram para a janela e observaram a cena: um dos clientes da
taverna, completamente bêbado, estava discutindo com um homem alto, de queixo
quadrado e barba rala, o longo cabelo verde-floresta penteado em falso moicano
para trás e vestindo uma camisa de tecido fino, preta, calça de algodão, também
preta, e botas de couro marrons, encobertos por uma capa preta.
—Você
não está com calor? Vestido que nem um urso desse jeito. -o bêbado disse.
—Ora,
saia da minha frente! -o homem respondeu- não tenho tempo para conversas
inúteis.
O
bêbado tentou encostar na capa do outro, mas assim que estendeu o braço, foi
inteiramente consumido por chamas verdes, deixando apenas cinzas em frente ao
homem de preto, que seguiu em direção à taverna, junto de dois outros que
apareceram em seguida.
—Ei,
Nic. -Dake diz, olhando devagar para seu amigo. -Será que eles são os...
—Sim,
eles são, e nós vamos sair daqui agora, sem esperar pelo sinal do Eldor. -Nic
fala, interrompendo Dake.
—Mas
por que a gente vai embora desse jeito? Nós devíamos esperar.
—Você
viu aquele cara? Queimou o outro impiedosamente só porque ele tentou pegar na
capa, e depois passou pelas cinzas dele como se não tivesse acontecido nada.
Nós não temos como esperar.
—Mas
você não...
Nic
interrompe novamente.
—Vamos
logo!
—E
pra onde a gente vai?
—Depois
que nós estivermos em segurança, a gente vê. -Nic começa a abrir a janela.
—Tá
certo então. -Dake se conforma.
Nic
se apóia sobre janela, então pula, e logo se esconde no estreito beco entre a
taverna e uma construção desativada, que anteriormente era um depósito de
mercadorias. Dake pula logo em seguida. Os dois, agora escondidos, decidem ir
para trás da taverna, tentar observar o que acontece do lado de dentro, pela
janela dos fundos.
Olhando
para dentro, É possível ver os três homens vestidos de preto, olhando para
Eldor, que não recuara nenhum passo.
O
homem com falso moicano foi o primeiro a falar:
—Onde
eles estão?
Houve
silêncio, Eldor não parecia querer dizer. A apreensão de Nic e Dake só crescia,
eles temem que ele possa ser incinerado, da mesma forma que o outro na rua.
—Vamos!
Diga onde eles estão! -Outro homem diz, este está com a vestimenta preta igual
ao primeiro, porém usa um capuz de mesma cor sobre a cabeça, assim como o
terceiro, a seu lado.
—Rymber,
acalme-se. -O homem sem capuz fala. -Eldor sabe que se não nos disser onde o
filho d'Ele e seu amiguinho filho do Anti-Mago estão, sofrerá todas as consequências,
e ele não quer passar por isso novamente, não é, número 583?
Ele
pega o pulso de Eldor, revelando o que está nele é uma marca a fogo, com o número
583. Eldor puxa bruscamente o braço do agarro de Kort, desvencilhando-se.
—Quanta
insolência! -Eldor diz, rispidamente. -Quem vocês pensam que eu sou? Um mero
escravo dos profanos? Eu sou um 3º Vasdus da Casa Autumnleaf. Saiam logo daqui! Eles estão lá em cima, no
primeiro quarto.
Os
profanos se assustam, assim como Nic e Dake (que sussurrou "eu sabia que
ele não era confiável", logo que Eldor se revelou traidor). Kort olhou
para Eldor e disse, respeitosamente, pela primeira vez desde que entrara no
estabelecimento, mas ainda sem sair de sua pose imponente e orgulhosa:
—Senhor,
o senhor conseguiu alguma informação importante?
—Sim,
eu consegui, mas não pude pegar um certo objeto que o filho d'Ele carrega consigo.
-Eldor responde, ainda irritado.
—Que
objeto, senhor? -Rymber pergunta.
—Isso
não é da sua conta, agora vão pegá-los logo!
E
os três partiram escadaria acima para pegar Nic e Dake, porém qual não foi a
surpresa deles quando abriram a porta e perceberam que os dois não estavam mais
lá. Eles desceram enfurecidos, e Eldor não estava entendendo o porquê de eles
estarem voltando de mãos vazias.
—Por
que não os pegaram?
—Porque
eles não estavam lá! -Kort diz. Seus olhos da mesma cor que o cabelo brilhavam
como fogo, e sua expressão enraivecida se mostrava pela primeira vez.
—Como
assim "não estavam lá"? -Eldor fala, surpreendido. -É claro que eles
estão lá, eu os coloquei no quarto, a menos que eles tenham saído pela janela.
—Deve
ter sido isso mesmo, você sabe para onde eles vão depois daqui? -Rymber pergunta.
—Não,
isso eu não sei, mas sei que eles estão atrás de um professor.
Eldor
mentiu, ele sabia que os dois estavam indo para Zubahn. Nic percebeu isso, e
logo puxou Dake para junto de si, enquanto começava a sair para a rua. Dake
derrubou uma garrafa de licor de videira doce Artmus (feito artesanalmente na cidade de Artmus, no reino Noroeste
-também conhecida por ter os melhores vidraceiros de Utopia. -maturado de dois
a três meses em barris e carvalho, adicionando 35 gotas de mel liquefeito a
cada quinzena.), e isso chamou a atenção dos quatro homens dentro da taverna, que
viram os vultos de Nic e Dake correndo para a rua.
—Olha
eles lá! -Abal, o terceiro homem, encapuzado, diz, apontando para a janela dos
fundos.
Os
três foram correndo para fora, na esperança de pegá-los quando passassem pelo
beco, mas sem sucesso, logo depois perceberam que eles estavam mais à frente,
correndo pela grande praça central, então foram atrás deles. Rymber sacou sua
varinha, girou-a no ar e conjurou um tigre-de-armadura (nativos da Floresta
Negra), Abal, um amestrador, montou-o imediatamente. Kort e Rymber aumentaram a
velocidade da corrida magicamente, e os três começaram a se aproximar de Nic e
Dake, que não tinham como acelerar mais, porém, conseguiram se distanciar mais
quando ouviram um som muito alto ao fundo, que fez os três profanos pararem e
olharem o que era.
Uma
figura se aproximava em alta velocidade, mais rápido que qualquer coisa que se
pudesse pensar. Os profanos observaram por dois segundos, até que Abal disse,
sobre seu tigre-de-armadura:
—Aquilo
é mesmo o que eu acho que é?
—Se
o que você está vendo é um cervo da Falconsflight, sim, é isso mesmo. -Rymber
diz.
Nic
e Dake também se viraram para ver, e chegaram à mesma conclusão:
—Flamestorm!!
-Os dois disseram, simultaneamente.
O
cervo companheiro de Anwyn vinha correndo, os profanos tentaram atacá-lo, porém
Flamestorm desvia com sucesso dos três ataques e passa pelos três rapidamente,
e chegando a Nic e Dake, ele para. Em seu lombo, estão o arco e a aljava da
Anwyn, amarrados.
—Qual
é o problema, garotos? -Flamestorm pergunta.
—Flame,
você poderia nos dar uma carona, é que esses caras estão atrás de nós. -Nic
pede.
—Claro!
Subam.
Os
dois montaram no cervo e partiram velozmente. Em seguida, Abal, Rymber e Kort
retomaram a perseguição, muito mais distantes. Rymber sacudiu sua varinha para
o céu à frente deles, e nuvens negras começaram a aparecer.
—Você
já vai chamar o resto? -Abal pergunta.
—Claro!
Nós não sabemos até onde eles vão correr naquele cervo, então é melhor ter mais
gente indo atrás deles.
—Muito
bem, Rymber, agora mande tudo o que sabemos para eles e vamos apressar mais, se
transformem! -Kort diz, envolvendo seu corpo com chamas verdes, transformando-se
num raio de fogo, e partindo mais rápido que Abal e Rymber.
Abal
desce do tigre, fazendo-o desaparecer, transforma seu corpo numa
serpente-torpedo (serpente característica do Grande Deserto, no Reino Nordeste,
a mais rápida de todas as criaturas do deserto, capaz de se mover a mais de
cinquenta quilômetros por hora). Rymber, que ficara para trás, sacode mais uma
vez a varinha, fazendo sair de sua ponta, uma luz azulada, que parte em direção
às nuvens negras, e depois envolve seu corpo numa redoma de névoa negra, e
dispara junto aos dois.
Flamestorm
chega na casa dos Barbetmac. Começa a escurecer, Baldo, distraído pelo estranho
fenômeno, é empurrado por Anwyn, que corre para fora do sótão, em seguida, para
fora de casa. Seu pai, recobrando-se da distração, vai atrás dela. Anwyn abre a
porta, e se depara com Flamestorm, carregando sua arma, juntamente Nicaill e
Dake.
—O
que vocês dois estão fazendo aqui? -Ela pergunta.
—Estamos
fugindo, e você? -Nicaill responde.
—Eu
também.
—Que
sorte a nossa o Flame ter aparecido bem quando a gente precisava. -Dake diz,
dando leves tapinhas no cervo.
—Eu
o chamei. -Anwyn diz, pegando seu arco e aljava, posicionando-os. -Agora dá
licença.
—E,
por favor, não dê batidinhas em mim. -Flame pede.
—Ok.
-Dake dá espaço para Anwyn montar à frente dos dois.
Antes
de eles partirem, Baldo aparece à porta, perde o foco por um instante ao ver
Flamestorm (ele jamais vira cervos gigantes antes, apenas ouvia falar deles),
mas logo fala:
—Anwyn!
Se você for, nem pense em voltar! NUNCA MAIS!!
—Olha
só -Anwyn começa-, era exatamente isso que eu pretendia fazer mesmo!
Não
deu tempo de Baldo responder, pois, do céu escurecido, desceram oito colunas de
fumaça negra em direção ao chão, impactando-se contra ele, e revelando homens
encapuzados, totalmente vestidos de preto, cercando-os. Kort chega também,
surgindo do raio de fogo, seguido por Abal, em forma de serpente-torpedo,
morfoseando-se de volta à forma humana, e Rymber, em sua redoma de névoa.
—Quem
são esses? -Anwyn pergunta, surpresa.
—São
os caras de quem a gente tava fugindo. -Nic responde.
—Mas
quando a gente chegou aqui eram só três -Dake completa.
—Ora
ora, se bem me lembro você é Baldo Barbetmac, não? - Kort diz, aproximando-se
da casa.
—Sou
sim, e você deve ser o capitão cacatua, estou certo? -Baldo responde, irritado.
—Bem,
você é mesmo como descrevem nas histórias, ranzinza e parrudo. Quem diria que um
dos heróis da guerra, que defendeu os suprimentos dos rebeldes a todo custo, na
Invasão, iria acabar como um mero vendedor de porcos.
—Espera,
você foi herói de guerra? -Anwyn fica perplexa com a fala de Kort.
—Eu
não fui herói de nada! -Baldo retruca. -Apenas estava fazendo meu trabalho! E
eles disseram que iriam me pagar, mas tudo o que me deram foi o suficiente pra
comprar umas terras em Pillcast, uma carroça e essa casa aqui. Tive muito
prejuízo nessa tal guerra, isso sim!
—Uau!
Por essa eu não esperava. -Dake fala.
—Fica
quieto Dake! - Nic repreende.
—Pois
bem, eu não sabia que vocês garotos estavam envolvidos com mais um herói, então
terei que tomar algumas precauções.
Ao
fundo, Abal e Rymber se entreolham, logo Abal fala:
—Qual
dos dois você acha que é a terceira roda?
—Eu
acho que é o filho do Anti-Mago. -Rymber responde, olhando para frente.
Voltando
a Kort, esse estende a mão, e dela, surge uma esfera de chamas verde. Ele se
volta para os três montados em Flamestorm, e fala.
—Senhor
Baldo, poderia, se não for muito incômodo,nos entregar esses três? O senhor
sabe, é que nós temos ordens.
—Os
dois frangotes tudo bem, eu não me importo, mas minha filha fica comigo! -Baldo
diz.
—Pois
bem, você não vai ceder -Kort disse, andando para frente-, pelo que vejo e sei
das histórias, então não tem outro jeito.
Mais
rápido que qualquer um pudesse ver, Kort lançou uma rajada de chamas verdes
pelas mãos estendidas em direção a Baldo, e atinge-o em cheio, jogando-o para
dentro de casa, e as chamas começam a se espalhar pela cozinha. Salett e Ruth
descem assim que percebem o fogo. e tentam apagar, jogando água, porém as
chamas verdes só aumentam e se espalham.
Num
segundo, o fogo já tomava o andar térreo inteiro. Uma flecha raspou a bochecha
de Kort, tirando um fio de sangue. Ao olhar para onde a flecha partira, viu
Anwyn empunhando o arco e preparando mais uma flecha.
—Apague
esse fogo agora! -Exclamou Anwyn. -Ou eu vou atirar mais essa flecha, e dessa
vez eu não vou errar.
Kort
deu um sorriso, estalou os dedos, e em vez de apagar, as chamas tomaram conta
da casa inteira, incinerando tudo, e derivando delas, surgiu um círculo em
torno de Flamestorm, prendendo todos os quatro dentro dele.
—Agora
a gente está preso aqui. Como a gente vai sair? -Dake fala.
—Não
tem problema, eu posso passar pelas chamas sem me queimar, por causa da minha
velocidade. -Flamestorm diz, já se preparando para correr.
—Mas
e meus pais e irmãos? -Anwyn pergunta.
—Não
dá pra salvá-los, nós vimos um cara ser queimado por essas chamas mais cedo, e
não sobra nada. -Nic diz.
Anwyn
forma lágrimas nos olhos, e Flame sai velozmente, passando pelas chamas sem se
queimar, e surpreendendo todos os profanos, e partindo em direção ao caminho à
Zubahn.
A
estrada não é muito espaçosa, sobrando lugar apenas para Flamestorm, e para as
carroças que vêm em direção à Calli, mas a distância é longa, e a noite estava
chegando, os quatro seguiam a Zubahn, para enfim encontrar Toror, o elfo anão
treinador militar, e de fato, iniciar sua aventura num novo nível.